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21.Setembro.2020
Quando o investidor pensa em aplicações que protegem contra a inflação, um dos primeiros investimentos que vêm à cabeça é o Tesouro IPCA +. Este título é negociado pelo programa Tesouro Direto e sua rentabilidade é composta pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), mais uma taxa prefixada que é definida no momento da compra.
No entanto, é preciso ter muito cuidado. Isso porque a rentabilidade acima da inflação só é garantida para o investidor que mantém a aplicação até a data do vencimento – o que no caso do Tesouro IPCA + significa ficar pelo menos seis anos sem mexer no dinheiro.
Atualmente, o título com vencimento mais próximo é o Tesouro IPCA+ 2026, que só vence no dia 15/08/2026, como mostra a tabela a seguir:
Como é possível observar na tabela, os títulos atrelados à inflação possuem prazos muito longos – chegando até a 35 anos, no caso do Tesouro IPCA + 2055 (que paga juros semestrais).
Isso quer dizer que a rentabilidade de 4,73% + IPCA só estará garantida se o investidor mantiver a aplicação até 15 de maio de 2055, quando o título vence. Se optar por vender antes, estará sujeito a uma forte oscilação de preço, podendo inclusive ter fortes perdas.
Para se ter ideia, um investidor que aplicou no primeiro dia de 2020 no Tesouro IPCA+ 2045 e precisou fazer o resgate no dia 21 de setembro teria um prejuízo de 15,35%. Ou seja, uma aplicação de R$ 10 mil teria se transformado em R$ 8.465 – uma perda de mais de R$ 1.500.
Já quem investiu no título com vencimento em 2035 no começo do ano e resgatou agora amargou perdas de 8,06%.
A volatilidade dessas aplicações é tão grande que somente nos últimos 30 dias o Tesouro IPCA+2045 caiu mais de 11%. Confira abaixo a rentabilidade acumulada dos títulos atrelados à inflação e perceba que muitos estão com retorno negativo:
Por que isso acontece?
Os títulos atrelados à inflação possuem uma fórmula de cálculo de rentabilidade que utiliza a taxa prefixada como um dos elementos. Não vamos entrar no detalhe da fórmula neste texto, mas é importante que você saiba que quanto mais longo for o prazo do título, maior será a sua volatilidade (tanto para mais, quanto para menos).
Além disso, a lógica por trás das oscilações de preços do Tesouro Direto é a seguinte: se as taxas prefixadas registram alta nos títulos que estão à venda, o papel que você comprou com uma taxa mais baixa vai perder valor de mercado.
Vamos exemplificar: digamos que você compre hoje, por R$ 1.000, o título Tesouro IPCA+ com vencimento em 2055 pagando uma taxa prefixada de 4,77% a.a + IPCA.
Agora imagine que daqui a uma semana, esse mesmo título passe a ser comercializado no site do Tesouro Direto com uma rentabilidade de 5,5% a.a +IPCA.
Se você quiser vender seu título agora, ele valerá menos do que os R$ 1.000 que você pagou, concorda? Afinal, pelos mesmos R$ 1.000 já é possível comprar um papel que paga 6% ao ano.
Então é por isso que os títulos prefixados podem perder (ou ganhar) valor quando o investidor opta pela venda antecipada, dependendo da oscilação das curvas de juros.
O que fazer?
Como já foi dito, essa variação de preços só afeta o investidor que vende o título antes do seu vencimento. Por isso, antes de comprar um título Tesouro IPCA + com objetivo de se proteger da inflação, você precisa ter certeza de que irá manter aquela aplicação por anos e só fará o resgate na data estipulada. Caso contrário, é melhor optar por outro tipo de investimento.
Além disso, para garantir um retorno atrativo e sempre acima da inflação, você precisa ter uma carteira de investimentos diversificada, que tenha exposição à várias classes de ativos, respeitando seu perfil de risco.
Lembre-se também de que algumas aplicações, como fundos imobiliários, possuem uma proteção natural contra a inflação, já que os aluguéis dos imóveis são corrigidos por índices de preços.